sábado, 4 de maio de 2013

"RESGATE DE ANTONIA" - IRENE DA ROCHA

Este conto foi escrito em 2000.

É continuidade do meu primeiro: "Fomos Quase Seis"



Alguns momentos que registrei com "toninha":



* * * * * *
RENÊ resolveu ir ao canil da cidade, junto com seu esposo e seu casal de filhos, procurar uma cadela perdida no bairro para levar à sua nova casa. Infelizmente quando chegou ao local, a portaria já estava fechada. Triste retornou com a família, regressando no dia seguinte. Era um dia chuvoso, véspera de feriado e do dia das crianças. Chegando antes do horário de fechamento, dirigiu-se à secretaria e indagou se poderia procurar uma cadela perdida. Imediatamente foi liberada para entrar ... que tristeza, tantos cães abandonados, ou quem sabe perdidos ... alguns iriam para leilão, outros seriam sacrificados, outros estavam no isolamento ... muita sujeira ... era hora de limpeza. 

Encontrava-se no local dois serventes com enormes jatos de mangueira, higienizando as gaiolas. RENÊ passou vagarosamente ao lado de cada gaiola, ou cela como queiram denominar, mas a cadela que procurava não estava ali. Sentiu uma tristeza, pois seria uma grande alegria e um belo presente ao casal de filhos. 

Regressando pelo enorme corredor das celas, passava pelo lado dos recém chegados. Ali estavam alguns animais que haviam sido abandonados ou melhor, entregues à mercê da sorte. RENÊ olhava atentamente todos com muita tristeza, principalmente quando deparou com oito filhotinhos, tipo “dog street” todos branco e preto. 

Neste momento um dos serventes estava limpando o local, mas de maneira muito estranha. Mirava os filhotes com aquele jato tão forte da mangueira, que com certeza seriam friamente sacrificados. Neste momento RENÊ observou um dos filhotes que se dirigia até a grade de entrada, fugindo daquele jato, que parecia estar muito frio, pois o dia estava chuvoso e com certeza não resistiria. RENÊ não se conteve, dirigiu-se à secretaria e indagou se poderia adquirir um dos filhotes daquela cela. A senhora muito gentil, disse-lhe naturalmente: “Senhora Se quiser levar todos esteja à vontade, até amanhã eles não sobreviverão”. RENÊ ficou chocada com o que acabara de ouvir, que não estariam vivos no dia seguinte. No seu íntimo percebeu que um deles seria seu e então pediu que fosse retirado um dos filhotes, de preferência aquele que se aproximou da grade, tentando fugir do sacrifício. Um dos serventes ainda perguntou é este aqui, com manchas em forma de coração? Sim, respondeu RENÊ e aí ela descobriu que o filhote que havia escolhido era uma fêmea. 

Imaginem como fiquei feliz pela escolha, aliás ela nunca soube, mas fui eu que a escolhi, fiquei bem perto da grade, para ser observada e conquista-la à primeira vista. Sim Revolvi regressar para cá, de forma animal, como uma cadela, sem raça, sem dono, imunda, pulguenta, com muita fome, abandonada, prestes a ser sacrificada, mas que conseguiu conquistar o coração da RENÊ. Ela ficou muito feliz, mas ao mesmo tempo me olhava com cara de desconfiança e se perguntava: será que sobreviverá? Lá estava eu ... até que enfim ... ao lado da RENÊ, que logo me batizou de Toninha, li em seus olhos que me acolheu como sendo sua própria mãe, tentando resgatá-la de alguma maneira, e por coincidência da mesma maneira que resolvi retornar. 

RENÊ me levou a uma Veterinária conhecida e chegando lá questionou se eu teria condições de sobreviver. A doutora sutilmente respondeu: Minha senhora, se tiver muito amor, com certeza vocês serão muito felizes. Fiquei ali para tomar banho, tirar todo aquele cheiro horrível de urina, fezes e pulgas, bem como tomar remédio para vermes e fazer um exame geral. RENÊ debaixo de uma garoa fina, foi até a loja próxima da Veterinária para comprar uma gaiolinha para mim. Estava eu lá toda tremendo de frio e medo também, pois não tinha certeza se meu plano daria certo, ou seja, regressar como uma cadela, só para ficar ao lado da RENÊ. Ela voltou da loja com uma gaiola para cães, bonita, de madeira, bem simples. Quando saí da sala toda cheirosa e ainda de lacinho no pescoço, RENÊ nem acreditou que era aquele filhotinho que havia buscado no canil. Seus olhos, jamais esquecerei, ficaram totalmente arregalados para mim. Mirava-me como se fosse ali o dia do meu renascimento, para ocupar aquele vazio que nossa mãe Antonia nos deixou.



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http://www.museudapessoa.net/_index.php/historia/126-resgate-de-antonia/texto

"FOMOS QUASE SEIS" - NARRAÇÃO EM VÍDEO

A seguir, narração do conto "FOMOS QUASE SEIS", em vídeo, editado por Yolanda Hollaender:

POSTAGEM INAUGURAL

A postagem inaugural é dedicada à minha querida família.



Bem-vindos!